sexta-feira, 18 de março de 2011

Eu poderia ter tido essa ideia naquele momento, em vez de apenas me virar de costas e olhar as janelas dos outros prédios; em vez de apenas me perguntar se mais alguém na cidade passava por aquilo no mesmo instante, se havia tristeza em algum outro apartamento, ou se mais copos de vinho haviam sido derrubados, sem querer, antes de alguém sobrar sozinha como eu.
Eu deveria ter feito alguma coisa naquele começo de madrugada, em vez de apenas ligar a música e esperar pelo auge, oito minutos até ele. Eu poderia ter feito alguma coisa, em vez de apenas abrir as cortinas até o fim e jogar aquela composição pela janela, contaminar o silêncio da noite, acordar os vizinhos em lá menor...

terça-feira, 15 de março de 2011

"Era ela, elástica, com uma pele suave da cor do pão e olhos de amêndoas verdes, e tinha o cabelo liso e negro e longo até as costas, e uma aura de antiguidade que tanto podia ser da Indonésia como dos Andes. Estava vestida com um gosto sutil: jaqueta de lince, blusa de seda natural com flores muito tênues, calças de linho cru, e uns sapatos rasos da cor das buganvílias. 'Esta é a mulher mais bela que vi na vida', pensei, quando a vi passar com seus sigilosos passos de leoa, enquanto eu fazia fila para abordar o avião para Nova York no aeroporto Charles de Gaulle de Paris. Foi uma aparição sobrenatural que existiu um só instante e desapareceu na multidão do saguão."

 Adoro a maneira como Gabriel García Marquez narra os fatos, envolve a gente intensamente.
Preciso fechar o livro e abrir outro nada envolvente, pois os doutrinadores de direitos mais moderninhos não brincam mais de serem escritores de romance como seus antecessores faziam. Será pra economizar papel?