quarta-feira, 24 de setembro de 2008

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Vocabulário

Ora bolas, meu amigo, o tempo passa
E a gente acaba ficando para trás.
As expressões do tempo do onça estão caindo.
Hoje ninguém mais arrebenta a boca do balão.

Macacos me mordam, até pouco tempo atrás
Todos eram serelepes e escreviam tudo tinindo.
Pelas barbas do profeta, é o fim da picada,
Hoje nada mais é supimpa como antes.

Se não visse com meus próprios olhos, não acreditava,
Mas hoje ouço cada coisa estapafúrdia que nem imagina.
Um colosso de gente falando dialetos estranhos.
Acho que vou tirar minhas barbas de molho.

Tenho saudades de mil novecentos e guaraná de rolha.
Dizem que é a tal da globalização que fez isso.
Vamos fugir para onde Judas perdeu as botas,
E lá ainda vamos ser o ó do borogodó.

Por obséquio, gostaria de falar só mais uma coisa:
Vai ser batata, você vai ver, e eu também quero ver
O que vai acontecer com nosso vocabulário agora.
Sem chorumelas, bacana, só podemos morrer de rir.

Davi Drummond
Pintassilgo - Poemas e Poesias - 2006

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Considerações

Aproximei-me tão mansamente
como deve acontecer,
apesar da dificuldade
em fazer as coisas assim
sutilmente.
Quase não fui percebida
de tão constrangida e temerosa.
Tratei de esmaecer meu tom de rosa
e só insunuar
em vez de convencer.
Não foi proveitoso manter
essa imagem tão pequena
e aí me rebelei:
foi então que escrevi,
compus
e me indispus
com os ditames da lei;
aquela que diz
que pra ser feliz
é preciso ser ralo e difuso
e qualquer abuso
lhe amassa o nariz.
Perdi o juízo.


Calçada de verão, 1989: p.89
Flora Figueiredo me desnudou parte da alma nestes melodiosos versos.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

" Estou sozinha se penso que tu existes.
Não tenho dados de ti, nem tenho tua vizinhança..
E igualmente sozinha se tu não existes
De que me adiantam poemas ou narrativas
Buscando aquilo que se não é, não existe
Ou se existe, então se esconde
Em sumidouros e nomenclaturas
naquelas não evidências da matemática pura?
É preciso conhecer com precisão para amar?
Não te conheço
Só sei que fico afastada de uns fios de conhecimento, se não tento
Estou sozinha, meu Deus, se te penso..."

Hilda Hilst, em Poemas malditos, gozozos e devotos

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

O mais importante e bonito do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, mas que elas vão sempre mudando.


João Guimarães Rosa

sábado, 6 de setembro de 2008

Enrolei

Enganei e fui embora
Dói agora.
Pulsa aqui o ácido
ciúme líquido que corrói
jorrando no músculo cardíaco flácido
Sístole
Diástole
alternam-se tortuosamente também
com a corrosiva contração